segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Só mais um Prólogo

Esta sensação dilacera. Às vezes é mais angustiadora que a melancolia da saudade da infância inocente. Não se trata da tamanha dor de quem carrega um peso contra o julgamento quase unânime e sórdido, mas sim do medo de cair, medo de ter perdido o controle das próprias ações, medo de ironias do destino, medo de ter se deixado levar em vão.
Fico deitado no escuro fazendo uma prece e a música consoladorada se propaga nos ambientes em volume máximo.
Adentro numa festa underground e me coloco a buscar a tecelagem de minha teia, descendo e subindo num elevador minúsculo e arcaico, tão velho quanto a dinastia do desprezo, mas que me possibilita encostar minha cabeça em seu ferro gélido e crú para pausar as pertubações da alma. É logo que no segundo pavimento, dou de cara numa convidativa janela. Ali, como numa amplitude teatral, eu olhava paulatinamente a rua das ilusões e suas poças de chuva em seu asfalto histórico. E as árvores aplaudiam minhas lágrimas mornas que surgiam feito ondas de água doce: praticamente imperceptíveis. Era uma enchurrada de gotas presas, ao som de algum seguidor de Mr Presley.
Mas, as árvores deixam de ser platéia, sacudidas pelo ar frio ao tempo que as paredes querem dilacerar minha carne no chão maestroso do Recife Velho.
Contudo, um alguém com aroma de cevada me dá um abraço, e um laço se cria. Não me conhece, não sabe o que pode se passar, mas me dirige palavras que o diabo não pode morder.
E me recordo do dia de sol que andei transtornado entre os corpos e carros da redenção de Santo Amaro, onde os ventos embarcaram meu olhar na parede interna de um simples boteco que trazia o letreiro: "Deus está no comando de tudo".
Caiu como um alívio imediato. Porém é fato que as horas e o despertar de pesadelos incógnitos, retrazem as sensações cruéis branco-e-preto.
Olho ao chão e vejo o cafuso varrer rispidamente a lama que reflete o meu olhar seco, e acabo desejando ser lavado, tocado pela luz desconhecida, criacionista, pelo mar em vida plena.
É na alvorada da lua, com os pássaros gritando piedade, que a eterna luta se segue na marcha solitária e bravante, pois a luta mais árdua é contra si próprio.
02h46 30/11/08.

3 comentários:

Lays Vanessa disse...

você mais do que nunca sabe o quanto somos iguais. também me sinto assim.
não esqueça da teia.

Unknown disse...

Homiii, isso parece um curta-metragem... me vi sendo expectador vivo de um. Que aventura viu meu benhê! Adorei (como sempre). :*

Fernando" M.Neto disse...

com esse adjetivismo, meu amigo, consegui sentir e tocar nesta cena.

Nâo há palavras, felizmente, para traduzir essa viva e sensata poesia.

E sim, descobrir-se, tirar a alma desta face suja, mascarada por nossas pieguices humanas de ignorância e egoísmo, é a fonte magna que nos tirará dessa insatisfação.

Parabéns.
Estarei sempre aqui!!!