sábado, 30 de agosto de 2008

Liberdade Egoísta

Eu era mais ilibado que o báculo de uma briófita. Era mais inocente que as gotas de água que escorrem nas asas das borboletas. E eu era tão passivo de voz quanto um peixe sendo torturado num anzol.
Era assim quando fui morto.
Minha mãe era uma menina branca exuberante, mas escancaradamente irresponsável e cruel.
Meu pai foi um jovem rico qualquer, ele era o tipo de pessoa que é incapaz de se constranger ao ver um idoso agredido, por exemplo.
E sem me darem uma chance de gritar, uma oportunidade de inspirar, tampouco uma alternativa de luz, eles me assassinaram.
Me sufocaram sem o mínimo pudor. Toda aquela pachorra era desesperadora. Eu queria ao menos sussurar piedade, mas nem isso pude.
Eles permitiram que me esquartejassem vivo. E naquele silêncio obscuro eu morria sem viver. Arrancaram meus membros um por um. A dor foi o único sentimento que obti. Mas, a pior parte, sem dúvidas foi o desfecho daquele ritual satânico: foi quando senti a última dor: eles explodiram o meu crânio.
Não consigo compreender tanto desamor. Por que nem gritar eu pude na hora em que fui assassinado?! Por que ninguém me salvou?! Por que fui torturado em nome desta liberdade egoísta?!
Aqui, nesta outra dimensão, junto-me aos outros tantos milhões que padeceram desta mesma asquerosa e horrenda crueldade sem limites.
E, é em nome de todos, que invado os teus sonhos noturnos e te peço humildemente que levanteis a tua voz e as tuas mãos contra o aborto!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Manifesto ao Lema!

"Educação é vida no sentido mais autêntico da palavra" Anísio Teixeira.

Educação: eis a base da normalidade, do desenvolvimento, da vida! Ao menos este deveria ser um contexto real, mas na prática nossas vistas alcançam imagens que distorcem completamente essa quase utopia.
Nesses meus 16 anos de vida, dos quais 14 gozo da formação escolar, busco arduamente a compreensão- ou melhor- o sentido sócio-real do "Ordem e Progresso" que tremula em nossa bandeira brasileira 86.400 segundos diariamente.
Sim! Pois ao perceber que nesta nação a necessária e natural base cidadã é colocada numa margem de um rio quase inatingível, anseio em encontrar tal Ordem e expresso Progresso.
Em meu viver, quando sinto a ceteza do futuro, sei que obtenho através da educação que adquiro. Contudo, ao mesmo (e efêmero) tempo que viajo em vôos alcansáveis, flerto amargamente ao detectar aqueles que vivem à margem, cruxificados e flagelados pelo cruel sistema. São jovens, crianças que perdem a inocência, a expectativa de vida. São jovens de minha idade, mas separados por um abismo aparentemente sem possibilidade de passagem.
Ao mencionar tais jovens, lembro-me da famigerada frase que ouço desde os primórdios de minha formação: "Crianças e jovens são a esperança de futuro do país". Mas, como há futuro sem educação?! E sem falar que, neste exato momento, inúmeros frutos que deveriam florescer e representar tal esperança estão perdidos em vielas, sendo dilacerados por nosso insensível viver.
A educação é o caminho de possível amenizamento deste silêncio mortal que duramente caracteriza nossa moradia global. Se todos já sabem disto, por que não fazem algo?!
Quando nossa reflexão não encontra respostas para marmas inquietações, tendemos a querer encontrar no passado. O que teria causado a problemática na educação? Será que há 30, 40 anos as escolas eram tão desestruturadas? Professores recebiam amplos socos de ignorância? A boa educação já era algo tão restrito? Mas, a história não me deixa tudo às claras. É então que a filosofia me declara a máxima de Immanuel Kant: "A educação é o maior e mais difícil problema imposto ao homem". Talvez... Mas como, se é a solução digna para citados problemas?!
É nesse ponto que olho ao meu redor e percebo de maneira quse palpável a tremenda inércia do povo brasileiro: isto a história me mostra claramente. Se não fôssemos cidadãos tão paralisados, é possível que tivéssemos educação propriamente dita há tempos, bem como, é evidente que nomeada inércia é herança dos que vieram antes, como profundamente gritava Elis Regina em "Como os Nossos Pais".
Porém, existe cidadania sem educação? Se cidadania é a condição de ser cidadão, obviamente existe mediante à educação. Cidadania é vida e vida é crescimento, que é reflexo da educação como, sabiamente e categoricamente, afirmou o escritor fluminense, Anísio Teixeira, em sua frase utilizada aqui como epígrafe.
É, por isso tudo, que eu surrealmente gostaria que o nosso lema nacional se personificasse em algo sensitivo, que ouvisse tal manifesto de jovem educando e pudesse atender respostas. Pois, se o próprio "Aurélio" afirma que Progresso é uma marcha para frente e que Ordem é uma disposição conveniente de meios para se obterem fins, e se minha razão compreende que o fundamental para tal marcha e obtenção de fins é um meio que alicerça o mundo denominado Educação, não "aceito" arcaico e positivista lema!
Contudo, mesmo sabendo que não é garantia a todos, sinto-me 'firme' já que a educação em minha vida está assegurando-me uma cidadania a ser exercitada e quem sabe plena...
Concluo que nossa "Pátria mãe gentil" terá um significado racionalista de seu lema quando suas edificações tiverem como base sólida a educação. Mas essa evolução deve partir de uma junção nacional, pois educar é um ato envolvente que requer a participação ativa de todos nós.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Dor.

De alguma forma eu queria manter esse episódio fora do alcance, trancado em minhas memórias, preso em minhas teias obscuras...Mas sei que ainda tenho muito a aprender com tal fato.
Aquela imagem do jovem no auge da vida em um caixão recriaram forças em minha mente nos últimos dias. Fazem três anos.
Na época, lembro-me bem, eu queria agir naturalmente, disfarçar o susto, o certo remoço e apontuada perplexidade.
O vale sombrio das lágrimas que escorrem de meus olhos relatam os momentos trancafiados em meu próprio buraco negro, e me levam a lamentar o não feito. Hoje me encontro a refletir as dores e as necessidades que ele tinha. Chego a conclusão que eu poderia, que nós poderiamos, preencher de luz as trevas em que ele declaradamente vivia.
Eu, filho mais novo, cresci criando distâncias com este irmão por parte de pai que tanto eu via, que tanto nos queria como verdadeiros irmãos, que tanto anseiava por nosso abraço fraterno, que tanto pedia a presença de um pai.
Contudo, em 6 de agosto de 2005, enquanto eu, minha mãe e meu irmão falávamos alegres acerca dos 9 meses de gestação de minha irmã, em uma casa no mesmo bairro, uma mãe e uma avó gritavam em tamanha dor a morte auto-premeditada.
Foi então que os murmúrios no bairro chegaram em nossa porta: o primeiro filho de nosso pai, nosso irmão, sangue de nosso sangue decidiu finalizar suas horas. Ele pôs lençóis em seu pescoço e se atirou de uma cadeira. Silenciamos o restante do dia. A pessoa que mais sentia, ironicamente, era minha mãe: mulher que não tinha elo biológico com aquela criatura, mas mantinha um laço afetivo com aquele enteado incompreendido por todos.
Tento repensar os porquês daquela barreira familiar, daquele abismo fraternal, mas não há mais o que fazer, o que pensar.
E como nunca pensei que conseguiria expôr uma breve reflexão acerca deste suicídio familiar, só me resta fazer uma humilde preçe...

"Fábio,
espero que encontres luz onde estiveres agora. Os limites do viver não nos permitem a comunicação. Mas, quero dizer-te que aguardo o dia em que todos poderemos nos encontrar do outro lado. Hoje compreendo um pouco teus aflitos, a vida é uma caixa enigmática. Embora que não tivemos uma construção de laços, você fez parte de minha vida, de nossa vida...E tua morte não foi algo em vão, mas um capítulo, que embora sombrio, faz com que, além do aperto no peito que sinto agora, eu amadureça infinitamente.
Bençãos em tua alma irmão meu que nunca me permiti ter...
Sinceramente e fraternalmente, Elilson."

domingo, 3 de agosto de 2008

Notas Vagas

Você marcou minha alma como um bicho geográfico e quase me deixei ser devorado por completo.
Até pouco tempo ainda bebia as últimas gotas dessa paixão infame. Pois eu anseiava ressentir teu sorriso, repensar o sabor de teus beijos e quem sabe mergulhar em caminhos mútuos. Mas a realidade me declara que não quebraremos novamente a barreira dos limites.
Te vejo feliz e sinto uma alegria confusa. E enquanto eu torço por vocês, estou me dando uma chance de ser feliz.
Emplantastes em mim a inocência de teu veneno, e eu, talvez, não tenha deixado nem uma marca relevante em teu ser.
Este sentimento é um despautério iluminado. Mesmo com toda certeza de que um ponto final foi dado, ouso em querer vírgulas e ainda guardo a caixinha branca como me pedistes.
Nesse romantismo efêmero eu despejo meu estado atual, pois a mão que pronuncia tais palavras é a mesma que une os laços. Os lábios que silenciam as dores são os mesmos que provam da tentação. As pernas que caminham nas ruas são as mesmas que compõem a marcha solitária. Os olhos que encantam horrores são os mesmos que destroem amores.
E o canto que embala a serenata de risos é o mesmo que se recolhe no escuro a cantarolar o pranto das coisas.