quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Paixão de Janeiro


Quem será você, efêmera onda de beijos, de palavras e de olhares, que me deixou na ânsia do amor?!
Saiba que és alusão das minhas letras, lágrimas que minha ponte fabrica ao ouvir as músicas correlatas. É o desconforto do abraço rápido. O brilho nos olhos ao relembrar Janeiro. És o medo de não esquecer.
Me pergunto o que pode haver de errado. Nada é culpa sua, e você nem se quer percebe tal aflição. Mas, por que hei de ainda sentir algo que dilacera?!
Não era pra ter tamanho significado. É ilógico. Mas, sinto e só. Não sei o que quero, só sei que sinto.
Sinto o aperto, a nostalgia, a inveja inocente, o afastamento, o aperto ao relembrar o que poderia ter continuidade. Mergulhei de cabeça em teus beijos. És o princípio ou foi princípio?!
O fim foi declarado por mim, mas existe fim? E por que tais batimentos não cessam?
Andei te procurando em tudo. Nos rostos, nas chuvas, nos beijos em minha pele marcada. Mas, não passastes de umas poucas reflexões inspiradas. Até que pude ver nossos caminhos completamente separados, esquivados, apagados.
Por qual motivo não consigo te delatar de minhas linhas construídas com lamento?

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Silenciar

Apenas converso sozinho, pois o silêncio me ouve melhor, me ensina mais, me faz sentir forte e suaviza o que vai além de minhas paredes.
Isso não é coisa nova. Desde criança que os meus lábios batem instantaneamente. As paredes sempre me responderam com afeto.
Dizem que cada um tem a sua estimável loucura, só tenho a vontade de fazer arte enquanto estou isolado. Minha mente vai no passado e volta no futuro. Crio cenas, vejo letras, observo matérias que podem ser feitas por mim ou pelos que estão em torno.
Os meus dedos pincelam sonhos nos ventos, minhas lágrimas enfeitam as marcas que minha pele já carrega.
Talvez esteja destinado a sempre escrever. Fazer barulho na surdina do vento. Tenho me afastado de holofotes sem perceber.
Há pouco ainda enfrentava inúmeras expressões faciais com um microfone bem posto nas mãos como se estivesse num ofício sem igual. Era uma liderança boa de se cumprir, mas com o tempo me trouxe cansaço e comecei a inesperadamente ter fobia ao público.
Contudo o silêncio amigo, assistido pelo retorno ao teatro, me provou que foi mais uma fase. Eram muitas coisas acontecendo. Mudanças imediatas, imagens desfocadas.
Mas, quando vejo e repenso acerca de tudo que aconteceu nesses mais de 360 dias, me vem uma vontade louca de gritar, clamar justiça, desembocar o ódio pela nossa passividade. E tudo parece só mais um "Extra-Extra" proclamado por algum mudo, pois tudo se repete. Alguns episódios levam destaque, seja pela perplexidade, ou pela serenidade que venham a causar, mas é uma continuidade de fatos que não atingem a ação da massa.
E assim se aproximam outros dias, meses, mais um ano. Alguns esperam o fim, outros nada aguardam. Em meio a tanta crueldade, fome, inflação, politicagem nas três Américas, e o eterno natalismo* num mês que vem trazer reflexão inspiradora em final de ciclo, somente desejo fazer arte, tocar pessoas, caminhar firme e silenciar. Silenciar como as plantas. Talvez o mundo precise disso: silenciar. Atrair a calmaria, a concórdia e a harmonia, pois no natal ou em Carnaval, a esperança de melhores horas e de tempos menos sombrios revive igual tradição milenar, é surpreendentemente intacta.

*Neologismo, feito por mim na crônica de mesmo nome postada aqui um ano atrás. Combinação entre os termos "natal" e "capitalismo".

domingo, 14 de dezembro de 2008

Monólogo da Saudade

Tudo tá confuso? Tudo está prestes a explodir?
Fui eu quem viu a vespa morrer na florescente. Sozinhos meus olhos se fizeram estátuas. Suas asinhas descoloridas tocavam na luz, ela trucidava-se no calor.
E eu? Eu estava na parede ao canto, lembrando do amor efêmero, dos que se foram sem meu adeus, do dia em que ali naquele mesmo canto o álcool do perfume bateu nas minhas amígdalas secas, quando a velha e áspera faca mostrou meu reflexo agoniado.
O que me falta? -Nada! Gritaram os fantasmas da voz. São apenas os medos,angústias e aflições.
Escondo meu crânio em baixo do travesseiro e realizo minhas preces. Tenho confiança em Deus. O sorriso de minha pequena, os olhares de meus pais, as falas de meus irmãos e os ombros dos amigos com o colo de amor me trazem sossego.
Me sento e destrincho as minhas memórias. Das conversas com as plantas e vidraças nunca quebradas, das paixões de juventude à solitude no banheiro, da coreografia como anjo em pastoril aos aplausos e ignoradas nos remotos episódios gremistas, das torturas no escuro até a arrogância sentinela, dos vôos na lama, rua, alcova e nuvens à austera solidão, dos momentos rebeldes às alegrias das vitórias.
Foi então que lembrei do dia em que deixei a morte acontecer. Iria para aquele ônibus de todo jeito, mas só tomei ação quando já fora tardia: o cãozinho já estava esmagado. Tinha 11 anos, mas ele não teve nem 11 dias. Eu podia ao menos desligar a luz, fazer com que a vespa morresse sem calor. Mas, o que sente uma vespa? Faz questão do frio como eu? Sai de um casulo que nem as mariposas?
Há momentos que minhas veias e artérias batem tanto, meu coração lateja tanto, que parece que no "beat" seguinte vai parar. É igual a essas linhas, parece que vou morrer quando der o ponto final. Mas, quem morre é a vespa.
Quero viver. Não anseio pelo "Lago Michigan" e as pronúncias fúnebres de Brecht para com aquela pobre e singela puta. Desejo voar alto, perdoar, respeitar, vencer. Amar sem restrições algébricas, sem gramática perfeita, sem comprovação histórica. Apenas amar, mergulhar no alvorecer de meus sonhos, acender as lamparinas da esperança, afastar a escuridão e ser diferente do que tenho sido.
E assim seguir como vespas e cães vivos: saborear as cores múltiplas fora da norma padrão e contexto inerte, mas viver. Seguir em marcha firme com minha transparência e gana, com meus gostos e repugnâncias, sorrisos e lágrimas, vilões e heróis, dramáticos e cômicos, cronicas e argumentos, pois eu ainda tenho dezessete.
E eu já tenho dezessete.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Só mais um Prólogo

Esta sensação dilacera. Às vezes é mais angustiadora que a melancolia da saudade da infância inocente. Não se trata da tamanha dor de quem carrega um peso contra o julgamento quase unânime e sórdido, mas sim do medo de cair, medo de ter perdido o controle das próprias ações, medo de ironias do destino, medo de ter se deixado levar em vão.
Fico deitado no escuro fazendo uma prece e a música consoladorada se propaga nos ambientes em volume máximo.
Adentro numa festa underground e me coloco a buscar a tecelagem de minha teia, descendo e subindo num elevador minúsculo e arcaico, tão velho quanto a dinastia do desprezo, mas que me possibilita encostar minha cabeça em seu ferro gélido e crú para pausar as pertubações da alma. É logo que no segundo pavimento, dou de cara numa convidativa janela. Ali, como numa amplitude teatral, eu olhava paulatinamente a rua das ilusões e suas poças de chuva em seu asfalto histórico. E as árvores aplaudiam minhas lágrimas mornas que surgiam feito ondas de água doce: praticamente imperceptíveis. Era uma enchurrada de gotas presas, ao som de algum seguidor de Mr Presley.
Mas, as árvores deixam de ser platéia, sacudidas pelo ar frio ao tempo que as paredes querem dilacerar minha carne no chão maestroso do Recife Velho.
Contudo, um alguém com aroma de cevada me dá um abraço, e um laço se cria. Não me conhece, não sabe o que pode se passar, mas me dirige palavras que o diabo não pode morder.
E me recordo do dia de sol que andei transtornado entre os corpos e carros da redenção de Santo Amaro, onde os ventos embarcaram meu olhar na parede interna de um simples boteco que trazia o letreiro: "Deus está no comando de tudo".
Caiu como um alívio imediato. Porém é fato que as horas e o despertar de pesadelos incógnitos, retrazem as sensações cruéis branco-e-preto.
Olho ao chão e vejo o cafuso varrer rispidamente a lama que reflete o meu olhar seco, e acabo desejando ser lavado, tocado pela luz desconhecida, criacionista, pelo mar em vida plena.
É na alvorada da lua, com os pássaros gritando piedade, que a eterna luta se segue na marcha solitária e bravante, pois a luta mais árdua é contra si próprio.
02h46 30/11/08.