sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Silenciar

Apenas converso sozinho, pois o silêncio me ouve melhor, me ensina mais, me faz sentir forte e suaviza o que vai além de minhas paredes.
Isso não é coisa nova. Desde criança que os meus lábios batem instantaneamente. As paredes sempre me responderam com afeto.
Dizem que cada um tem a sua estimável loucura, só tenho a vontade de fazer arte enquanto estou isolado. Minha mente vai no passado e volta no futuro. Crio cenas, vejo letras, observo matérias que podem ser feitas por mim ou pelos que estão em torno.
Os meus dedos pincelam sonhos nos ventos, minhas lágrimas enfeitam as marcas que minha pele já carrega.
Talvez esteja destinado a sempre escrever. Fazer barulho na surdina do vento. Tenho me afastado de holofotes sem perceber.
Há pouco ainda enfrentava inúmeras expressões faciais com um microfone bem posto nas mãos como se estivesse num ofício sem igual. Era uma liderança boa de se cumprir, mas com o tempo me trouxe cansaço e comecei a inesperadamente ter fobia ao público.
Contudo o silêncio amigo, assistido pelo retorno ao teatro, me provou que foi mais uma fase. Eram muitas coisas acontecendo. Mudanças imediatas, imagens desfocadas.
Mas, quando vejo e repenso acerca de tudo que aconteceu nesses mais de 360 dias, me vem uma vontade louca de gritar, clamar justiça, desembocar o ódio pela nossa passividade. E tudo parece só mais um "Extra-Extra" proclamado por algum mudo, pois tudo se repete. Alguns episódios levam destaque, seja pela perplexidade, ou pela serenidade que venham a causar, mas é uma continuidade de fatos que não atingem a ação da massa.
E assim se aproximam outros dias, meses, mais um ano. Alguns esperam o fim, outros nada aguardam. Em meio a tanta crueldade, fome, inflação, politicagem nas três Américas, e o eterno natalismo* num mês que vem trazer reflexão inspiradora em final de ciclo, somente desejo fazer arte, tocar pessoas, caminhar firme e silenciar. Silenciar como as plantas. Talvez o mundo precise disso: silenciar. Atrair a calmaria, a concórdia e a harmonia, pois no natal ou em Carnaval, a esperança de melhores horas e de tempos menos sombrios revive igual tradição milenar, é surpreendentemente intacta.

*Neologismo, feito por mim na crônica de mesmo nome postada aqui um ano atrás. Combinação entre os termos "natal" e "capitalismo".

4 comentários:

Unknown disse...

"Palavra e ação juntas não andam bem. Repare na natureza: trabalha continuamente, mas em silêncio."
(Mahatma Gandhi)

É bastante repetitivo, mas as grandes reformas começam dentro de nós. Não adianta procurar a solução de grandes problemas quando não estamos satisfeitos conosco, com nossas ações, quando não estamos em harmonia. O trabalho de auto-conhecimento é duro e traz consigo luz à grandes descobertas, Elilson.
Nos resta desejar que um dia todos alcancem o que buscam dentro de si e que possamos, todos juntos, compartilhar disso tudo, tornando-nos um todo, uno.

Escrevendo fazes muito, acredite.
Abração :)

Anônimo disse...

Bom saber que encontrei alguém para entender até pode ir a nossa epifania ^^
Me add: leandro.leuss@hotmail.com

:*

Lays Vanessa disse...

o silêncio.
as vezes ele grita mais que as palavras.
e é mais lindo que a voz mais aveludada.

Fernando" M.Neto disse...

Me divido um pouco nesta suas palavras, na sua forma de encarar e responder a essa vontade de superar um ciclo, sem permanecer no ócio ou desbancar pelo imediatismo que só traz fracasso.

Sou feliz por ler tua literatura, por mais que fagocitada pela tua necessidade de encontrar algo. Felicito-me por ver que não estou só nesta luz e que a tua amizade é muito boa de se conquistar.

Obrigado, Elilson!
Paz profunda