domingo, 20 de abril de 2008

Não Está Lá

Tinha acabado de ouvir os aplausos quando minha mente foi transportada.
Na rua vazia e negra, o colorido se fechou.
Caminhando, vi rastros de alegria no chão. Nas paredes não li nenhuma linha.
A lua que se escondia nas nuvens ainda iluminava os passos.
As vielas obscuras transmitiram ruídos que eu não quis decifrar.
Foi, então, que uma gota fria e densa caiu em minha testa, fazendo-me sentir mais leve.
Aquela água, que parecia adentrar em minha alma, aliviou, por instantes, o meu mundo; e as lágrimas se opuseram contra a cascata.
O parque estava em preto e branco. Andei mais alguns passos. Uma música começara a soar. Eu avistei as escadas. Elas davam numa balsa que me levava a curtas, doces e inalcansáveis lembranças.
Resolvi voltar e continuar. Foi, então, que olhei para a ponte e você não estava no meio a me esperar. Olhei remotamente ao sombrio outdoor e vi tua canção se apagando.
Nesse momento, a realidade declarou: teria sido você uma simples passagem de outono?! Minhas pálpebras bateram e meu coração confirmou que obteve vôos independentes, que se tornaram curtos por ti.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Vôo Multiétnico

Plano 1. Três parentes tagaleram assuntos diversos enquanto aguardam que seu vôo seja liberado pelo caus que protagoniza a aviação brasileira.

Richelli- Senhores, senhoras, peço perdão mais uma vez pelo atraso e um pouco mais de paciência.(aperta a gravata e sai de cena).
Laura(com tom sarcástico) Paciência?! Mas, qual o problema com o vôo? Tem algum espanhol aqui por acaso?
Marcelo-(acaricia o rosto de Laura)- Querida, não se estresse à toa!
Regina(Interrompendo de supetão)- E vai que tenha um espanhol psicopata por aí, minha prima?!
Laura(rispidamente)- Espanhóis não são iraquianos, árabes ou mulçumanos!
Marcelo- Talvez seja mais válido se preocupar com nossos irmãos de terra...(cortando o assunto) Laura, você devia ficar calma! Observe esta senhora a dois bancos de nós: é de idade, mas permanece serena.
Laura(com desprezo)- Serena e esquisita, meu amor!
Regina( dá uma rápida risada e solta os cabelos) Esquisita mesmo! Parece mais uma remota caricatura de HQ do Maurício de Souza ou um conto chifrim da Clarice Lispector!
Marcelo( com muita indignação)- C-l-a-r-i-c-e chifrim?! Já vi que você não entende nada de literatura, vai ver nunca a leu!
Laura(põe a mão na cabeça)- Isso é falta de assunto? Cadê esse vôo que não sai?! *(Dirige-se à prima) Mas, por que falas isso da grandiosa Lispector?
Regina(falando muito alto) Esqueceu que eu sou grande fã do Hitler?! Abomino judeus!
Marcelo- Mas a Clarice nasceu na Ucrânia e não era judia não! Sem fanatismo, Regina!
Regina(desapontada)- Ah, é? Clarice era boa, então.( pausa) Mas continuo a odiar judeus!
(a velha que de longe observava a conversa, levantou-se com ira em direção ao trio)
Enriqueta-(colocando-se de frente à Regina em alto e ríspido tom): A magnífica Lispector era judia e eu também sou judia, sua bastarda!
A elegante senhora se retira indignada e chama a segurança do local. O silêncio toma conta dos 3 futuros passageiros.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Efêmeras Palavras

Por algum tempo vim criando uma alergia ao sol, mas quero estar pronto pra permitir que os raios de esperança voltem a renascer força em minh'alma. Também passei a permitir que levianas palavras me fizessem criar sentimentos feridos, que resultam em choques inesperados. Duramente percebo que talvez tenho deixado minha essência um pouco de lado e é nesse ponto que quase me torno mais um, vivendo de acordo com a música imposta.
Entretanto,eu, centrado em minha problemática, devo viver minhas letras, e afirmo que o frio que bate em minha pele me torna mais maduro, que as irônicas decepções por mais que modifiquem as sensações, nunca conseguem destruir minhas edificações.
É provável que exista, de fato, um destino imutável. Sem frases soltas ou palavras repetidas, estou determinado a vencer, sempre estive! E não é nessa fase que mudarei.
Quero libertar novamente minha autenticidade como uma mariposa foge do casulo modelar. Necessito realcançar a maiêutica. Repraticar o intelectualismo moral. Continuar firme na busca de minha outra parte. E, além de tudo, escalar com competência essa efêmera vida, fazendo de minha filosofia uma atividade além da doutrina, um vôo além do desafio, uma conquista além da tentativa, um inspirar além do suspiro e sorrisos puros além de amargas lágrimas.