segunda-feira, 22 de junho de 2009

Parágrafo de Inverno.

Cavalgando entre o culto e a concepção. Cultuando perigosamente a solidão.
Um antagonismo imediato, a alegria em estar triste, tentar conciliar o pensamento medieval aos parâmetros clássicos. Como um simbolista sentindo no pescoço o quanto dói o Existir. São regras que se repetem, sensações que ultrapassam o tempo e permanecem dentre os dias. Monotonia amarga. Querem impor cláusulas imutáveis até para satira e lirismo. Isso é tão recalcado, é tão século XXI.
E tudo soa como muito barulho por nada. Hoje todos estão iguais perante a noite. Estamos na noite mais longa do ano. É solstício de inverno. O vento vai desenhando em nossos tímpanos. O céu fica resplandecentemente escuro. Correndo pelas pontes velhas. Banhado por pingos torrenciais. Tocando o próprio corpo, como numa frenesi sem limites. A chuva esgota as barreiras, cala o medo e desliza liberdade em minha pele. Eis uma sensação esgotada. Abrir os braços e correr perante o ar, sem se dar conta de olhares, sem sentir nem se quer o barulho inconveniente dos carros. Lamber a pele molhada, pressionar o tecido enxarcado, visualizar o amor idealizado dentre os dedos a deslizar sobre os cabelos.
Época de silêncio, de sintonizar a graça que há no firmamento apagado, nas cores neutras que se espalham por fora das janelas, de ver a lua vencendo o sol, de ver as águas do mar serem saciadas pelos trovões...
Mas, onde estará meu complemento? O que hei de fazer com minha insônia iluminada?
Meu hálito cheira a álcool. Meus olhos entram em despautério.
Do que estava falando mesmo?!

Um comentário:

Tobias Farias disse...

Intenso.
Ler tudo isso sem respeitar vírgulas,
apenas sentir a liberdade das letras.