quarta-feira, 12 de maio de 2010

Demora

Dedos misturando-se à penumbra.
Os cães ladrando nas beiradas da rua.

Silêncio de madrugada.

Os ventiladores ligados às tomadas elétricas da casa. Vida na escuridão. Sombra da cabeça dançando na parede, negra. Um resquício de reflexo no televisor. Embalagem de biscoito enfeitando o sofá. Notas agudas ecoando vez ou outra do computador.
Dois dedos que brincam de amar nas bordas úmidas do copo de vidro.
Pescoço que estala momentaneamente. Mosquitos pousando na tela, traços góticos de olhos que não dormem. O vento pincelando o telhado.
A palavra Deus nítida em um calendário.
[ ]
Há um santo torto dentro de mim.

3 comentários:

Hermínia Mendes disse...

"Há um santo torto dentro de mim."

Frase foda!
Gostaria de ter escrito isso.

E nessas linhas, vejo você.

beijo n'alma.

.analice disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
.analice disse...

Só sendo fruto do desprendimento pra de uma cena cotidiana fazer tanta poesia. Há sim, um santo torto morando aí.