domingo, 17 de janeiro de 2010

O Haiti poderia ser Aqui

"Pense no Haiti. Reze pelo Haiti. O Haiti é aqui. O Haiti NÃO é aqui"
(Caetano Veloso/Gilberto Gil)

Desde o primeiro noticiário que pude ver relatando acerca da recente catástrofe ocorrida no país mais pobre das Américas, que esses versos da canção "Haiti" de Caetano e Gil na interpretação de Elza ressoaram em minha mente.
Não é de agora que o Haiti precisa da ajuda do mundo. O Brasil é uma nação que vem há anos cumprindo um papel social no Haiti. Vale aqui mencionar e honrar todo o empenho de militares de nossa Força Nacional bem como de militantes como a notável Sra Zilda Arns, mundialmente reconhecida por suas ações sócio-religiosas e fundação de projetos como a Pastoral da Criança, que dedicaram anos de suas vidas na tentativa de levar dignidade àquela parcela de gente que sempre foi esquecida pelo mundo e que infelizmente foram umas das cerca de 200 mil vítimas da tragédia natural que afundou ainda mais o Haiti no inferno que sempre viveu.
É interessante ver como a Solidariedade ainda vive no mundo. Ao redor do planeta, inúmeras pessoas estão promovendo iniciativas para contribuir na reconstrução do Haiti, que na verdade nunca deve ter se sentido "construído". Impulsionados também, é claro, pelo exemplo de pessoas públicas como políticos e artistas que anunciaram suas doações às vítimas sobreviventes.
Por falar em pessoas públicas, a cantora brasileira Sandy Leah, questionou em seu Twitter o fato de muitos brasileiros, comovidos pela tragédia, estarem ajudando o primo de Continente bem mais do que ajudam a mudar a realidade do próprio Brasil. A cantora ainda completou no mesmo comentário que considera formidável essa atitude, mas que deveríamos parar para pensar no que fazemos pela nossa nação.
Não aponto críticas ao comentário da Sandy. Arnaldo Jabor, inclusive, falou algo parecido ao citar o esquecimento global que sempre sofreu o Haiti e esse surto de imediatismo solidário que passa agora por conta da catástrofe.
Uma tragédia dessa dimensão mexe muito mais com o sentimento universal, isso é óbvio. Mas, de fato, trata-se de uma nação à margem. Como outros países da América, da Ásia e especialmente da África. Parecem que a toda hora estão num outro mundo. Nós preferimos tapar os olhos, pois ver o que se sucede nesse outro mundo dói os olhos.
Acima de tudo, o Haiti é uma prova viva de quão a desigualdade impera. O Haiti é uma nação morta-viva, com ou sem tragédias dessa natureza. Fato é, que por "sorte" nossa o Haiti não é aqui. Mas, nossa nação tem um quê de Haiti. O Haiti poderia ser aqui.
A tragédia ocorrida tem que nos antigir além de emocionalmente, criticamente. A natureza colocou os olhos do mundo no Haiti, isso não deve ser por acaso.
Além de lamentar o inesperado, é interessante mesmo que nos juntemos à solidariedade global e façamos um mínimo.
Pois, com tanta disparidade no mundo, destruição global e ditadura capitalista, não se esqueçam de que o Haiti poderia ser aqui!


Ps: Para quem é de Recife como eu, por esses dias foi formada uma comissão de solidariedade pelo Haiti, com coordenação de secretarias públicas, entidades não-governamentais além do apoio de empresas de serviços e tele-comunicações para promover uma arrecadação, durante 15 dias, de alimentos, roupas, e Água(garrafão de até 5 litros) para os sobreviventes. Por falar em Água, ver as imagens daqueles homens, mulheres e crianças aflitos pelas ruas correndo de um canto a outro da destruição atrás de uma gota de água é mais que um grito de alerta aos habitantes do planeta Terra.
Aqui estão listados os pontos de coleta no Recife:
Confira abaixo os pontos de coleta:
- Quartel do Derby - 24h
- Praça Professor Fernando Figueira - Das 8h às 18h
- Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Pernambuco (Rua do Imperador Pedro II,
235, Santo Antônio) - Das 9h às 18h
- Instituto de Assistência Social e Cidadania - Iasc (Rua Imperia, 203, São José) -
Das 8h às 17h
- Igreja Matriz das paróquias - De acordo com o horário das Igrejas
- Parque da Jaqueira (a partir das 14h de amanhã) - Das 8h às 22h
- Segundo Jardim, em Boa Viagem (a partir das 14 de amanhã) - Das 8h às 22h.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Almas que Teclam

(Obrigado, Bruna Oliveira.)

Bruna diz: Posso fazer uma pergunta?
Elilson diz:
Já tás fazendo uma...(risos)
Pergunte, oras, você sabe que nem precisa pedir. (Mais risos)
Bruna diz:
você é feliz?
Elilson diz:
Ai!
Felicidade, pra mim, é algo quase inatingível...
Mas que é atingível.
(Risos)
Às vezes estou feliz, na maioria alegre.
Alegria é mais comum.
Mas ainda não atingi um nível de auto-felicidade, se era nesse ponto a sua pergunta...
Bruna diz:
Alegria e Felicidade, qual a diferença?!
Elilson diz:
Felicidade é algo mais pleno, é Grande!
Parece-me que nem leva em conta o Tempo.
Alegria são momentos.
Alegria deve ser menos que felicidade.
Alegria é característica, Felicidade é estado...
Não sei explicar, algo assim...
Bruna diz:
você já sabe o que te faria feliz?
Elilson diz:
Sonhar me faz feliz.
Ir a lugares que sinto leveza me faz feliz e triste. (Risos)
A solidão me causa uma felicidade amarga, sabe?!
Por que mesmo estando melancólico, gosto.
Bruna diz:
Gostas de ficar só?
Elilson diz:
E Muito!
Porém, gosto de estar entre meus amigos na mesma intensidade.
É que são oportunidades diferentes de se provar, auto-conhecimento...
Bruna diz:
O que você acha que move duas pessoas a ficarem juntas?
Elilson diz:
Duas? Duas ou mais? (Risos)
Tipo...
Amizade: você só se une com quem te dá paz ou tem algo em comum contigo ou mesmo algo que você admira, mas que nem é comum a você.
Duas pessoas quando se juntam para a vida, construir algo, procuram o que complementa sua alma. Por isso na maioria das vezes, nos apaixonamos mais por quem menos se parece conosco!
Pelo menos é assim que penso.
Bruna diz:
É, pode ser. Que papo mais filosófico e introspectivo, não?! (Mais risos)
Eu queria saber...
Elilson diz:
Continua..
Bruna diz:
Se aparecesse alguém que despertasse em você um sentimento diferente, sensações que você não controla..
Algo diferente de irmandade, paixão ou sei lá o quê... Você se protegeria da sua necessidade de estar perto desse alguém?
Elilson diz:
Nossa, que coisa difícil.
Calma...
Bruna diz:
É, concordo. (Risos)
Elilson diz:
Depende da situação, guria.
Há coisas que a gente sente e nem pode pôr em prática, por que às vezes a vida nos coloca em margens totalmente distintas.
Mas, o que ocorre hoje contigo para fazer essas perguntas?
Acredito que poucos sentimentos meus foram "descontrolados".
Na maioria das vezes o que pensei ser paixão ou início de paixão, eram desejo ou admiração que me confundiam e me faziam querer precisar beijar tais pessoas ou ter que pensar nisso.
Bruna diz:
É muito difícil ser bom, fazer o bem...
Respondendo a você: deve ser crise existencial minha... (Risos)
Elilson diz:
(Outros Risos)
Normal...
Mas, a senhora fazendo essas perguntas a alguém tão equilibrado existencialmente...
Bruna diz:
(Risos)
Por isso mesmo!
Você deve ser bem normal por se questionar tanto.
Tenho medo quando acho que tá tudo bem.
Elilson diz:
É...
Bruna diz:
o que deixaria tua alma suja?
Elilson diz:
O auto-martírio, o rancor.
Bruna diz:
Ler-te me faz bem, sabia?!
Elilson diz:
Mas, acho que é isso...
O apontamento alheio deixa a alma suja, pois todos os dedos são sujos ao apontar.
E também a falta de algo que não tem nomeação, deve ser isso.
Bruna diz:
Você não exerce toda a sua potencialidade de melhorar tudo ao redor e você mesmo?
Elilson diz:
É provável que não... Como assim?!
Bruna diz:
Por que?
Elilson diz:
Essas coisas são ruim de explicar, porque são difíceis de perceber. Você percebe?
Bruna diz:
Não sei...
Parece que, sabendo que a gente pode fazer mais, nada é suficiente.
As pessoas é que enxergam isso pra gente. Reconhecem, tranquilizam.
Quando isso não acontece: vazio enorme.
Elilson diz:
É verdade...
Aí está chovendo?!
Bruna diz:
Aparentemente, não. E aí?
Elilson diz:
É...deve ser apenas impressão dos meus olhos...

Solidão em Haicai*

Ânsia arquejante do meu peito.
Querer pulsar...
Unido.

*Estética poética proveniente do Japão, onde o texto consiste de 3 versos com 17 sílabas.

Seção: (Re)postagens no Filosfia.
Postado originalmente às 17h25 do dia 21 de julho de 2009.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Rua 7 Cores

Os felinos em abstinência do miado:
E o ato se pôs no silêncio.
Nas brechas das grades
Entoei meu olhar.
Um a um dormiam os gatos.
Cada um em seu ponto,
Formavam um polígono irregular,
No amplo pátio.
Simplesmente despercebidos
Enfatizaram-me com sua organização
Que me deteve a ação.
Até que o ponto de luz se acendeu
E ao meio deles pude ver
Uma minúscula ave partilhando a calmaria
Que cobria a rebeldia da cadeia alimentar.
E na mesma rua Sete,
A parede rudimentar
Que lamentava os oprimidos
Enfatizava então o brilho dos nobres
Felinos.

Seção: (Re)postagens no Filosofia
Postado originalmente às 14:11 do dia 18 de Junho de 2008.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Harmonia

Quero me entregar aos teus pingos.
Fazer-me devorado por tua magnitude singular.
Sentir o meu peso ser aliviado por teu minucioso e suntuoso toque.
Cobrir minha mente com um enfoque de bênçãos da tua granulometria líquida.
E, então, lamber-te em tua ausência de sabor.
Graciar-me com a sensação de liberdade eterna que a todos tende a oferecer.
Anseio que coloques sensação vital em minha espinha, que retires o recalque desvirginado.
E tu me darás uma natural licença poética exigida por Adélia.*
O que ainda faço na coberta, se tu, harmônica chuva, me convidas a constante inquietação de teus limitados e ásperos passos?

*Faço referência ao texto "Com Licença Poética" de Adélia Prado.

Seção: (Re)postagens no Filosofia.
Escrito originalmente no dia 1 de Julho de 2008, postado às 11:26.
Não dedico essas palavras a nenhuma paixão, quero dedicá-las a chuva e tão somente à poça de água que foi o ponto de partida para a fabricação desse texto que tanto amo.

sábado, 2 de janeiro de 2010

[Re] Postagens no Filosofia

Caro companheiro, de Pernambuco ou de Moçambique, você que vez ou outra acompanha minhas confissões e meus devaneios nesse blog, não se assuste se ao ler algumas postagens que farei, sua memória apontar que já conhece tais letras.
Por motivos pessoais, quase profissionais (rs) e displicentes, tive de delatar desse espaço tão pessoal e público alguns textos. Acredito que são cerca de cinco introspecções. Guardei os comentários em algum CD que hei de encontrar por esses novos dias de Janeiro, tenho fé!
Se precisar, em 2010, apagarei alguns posts e depois (re)postarei-os.
Sei que já fiz um post antes desse, mas nunca é tarde para desejar um novo ciclo repleto de Harmonia, Luz, Sucesso, Saúde, Energia e Filosofia e Introspecção para todos nós.
Que não esqueçamos que a Literatura, assim como todas as Artes, independente de conceitos e avaliações é uma linguagem universal que une a todos nós. Se consegue nos atingir já é um outro papo, mas o fato de corajosamente escrevermos é algo relevante.
Um abraço, nos esbarramos por essas próximas linhas.
Feliz 2010!

Resíduos.

De frente a esse vidro manchado,
Não estou pintando a cara
Nem estou devorando meus traços.
É o silêncio que me guia,
Guia o meu corpo sentado.
Apenas há uma brisa melancólica
Que respinga a minha nuca.
Quatro paredes que cercam
A visão que tenho de mim mesmo.
Talvez esses fungos no espelho
Sejam uma miragem dos meus olhos.
Olhos que admiram suas próprias,
Suas adultas e viris lágrimas.
Admiravelmente incolores.
Talvez esses fungos no vidro,
sejam mais a minha alma.
Que nem se conhece aos detalhes,
Que nunca é centrada em si.
Esfrego espumas no reflexo,
Mas os fungos ganham ampliação.
Qual o sabão que limparia
A sujeira da minha alma?