sexta-feira, 17 de julho de 2009

Mariz


É um protótipo imperfeito de doçura.
Uma boneca malcriada de sensibilidade primorosa.
Suas expressões me remetem a um quadro gótico, mas seus olhos inesperadamente me revelam candura. Ela tem um suave veneno, que vez ou outra me ponho a querer provar com os olhos e com os ouvidos.
Demonstra uma firmeza que a faz parecer proveniente de Marte, como mesmo significa o seu nome.
Suas ações são calculadas. Não há nada de exagero. Seus sorrisos, suas lágrimas.
A maioria sente apenas um lado azedo. Eu sinto mais além.
Ela é como uma poesia ultra-romântica: nos deixa ébrios com seus paradoxos, contudo é imersa de emoção. Emoção levemente contida, é bem verdade, mas basta ver o olhar que ela destina à sua amada, vale somente que ela recite um poema com sorriso estampado e olhos brilhantes que essa singularidade fria transborde aos que estão em seu redor.
Consegue ter uma visão de mosca acerca da sociedade com incríveis pitadas de humor negro.
É uma fragilidade encapada de soberba, ela é bem mais que um modelo de cultura: é um mistério imposto aos que ousam cruzar os seus dias.
Ela é um desses personagens confusos a quem desejo que permaneça nas minhas linhas diárias.
Mas, dela, eu ainda não sei quase nada.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A vida em amargo e púrpura.


São milhões de dados. Buscas incontáveis. Homenagens sem limites. Euforia desmedida.
Michael Jackson na esquina. Michael Jackson no meu quarto. Michael na cozinha, no banheiro. Michael está no ônibus, no metrô, nas tantas variedades de telas.
Passarão os anos e esse surto de comoção irá ser acalmado. Mas, não ocorre nada hoje que seja anormal.
Estamos falando do homem que mais vendeu discos na história.
Nunca fui seu fã, seu seguidor, talvez porque cresci em meio à sua contínua decadência. Porém, sempre reconheci o valor que teve na expansão da cultura ocidental. Ele representou muito bem as facetas capitalistas, mas e daí? Quem não é capitalista? Seu talento é algo inegável. É, pois nunca morrerá. Suas obras de arte permanecerão vivas.
Sua morte causou em nosso cotidiano um estado repentino de inércia. Desde que nascemos vários nomes começam a rondar por nossos ouvidos e a se fixar em nossa mente. Sem querer fazer comparações improváveis, no auge de nossa primeira maturação estamos cercados de vozes que ecoam aos cantos: Jesus Cristo, Madre Teresa, Lady Diana, John Lennon, Elvis Presley, Roberto Carlos(em nosso país), Madonna e muitas vezes: Michael Jackson.
É como se uma parte extremamente relevante do mundo, da cultura tivesse desaparecido.
Ele foi a representação clara de uma vida feita por antíteses. Daria uma boa obra barroca. Do glamour mundial a lama na solidão. Dos Grammys aos escândalos nos tribunais.
O rei Jackson sempre viveu entre tons opostos. A sua aquarela foi uma mistureba de plenitude e fracasso, de amargo e púrpura.
Foi um alvo fácil do imperialismo da mídia. Foi uma vítima banalizada pela imprensa, que hoje o aclama a todo instante.
O menino negro, pobre e sonhador, que virou por ironias patológicas e do destino um homem branco, milionário e frágil, profundamente frágil. O fato é que sendo "Black or White", o que se via era um homem querendo fazer arte, expondo de forma exímia os seus dons ao mundo. Um homem que era depressivo, que tinha tudo e ao mesmo tempo nada. O garoto que era humilhado e maltratado pelo pai na infância, guardou por 50 anos essas marcas invisíveis do martírio familiar. Foram esses episódios de infância que o tornaram uma pessoa frustrada, atormentada por sua própria alma e altamente viciado em querer torna-se "belo", sim, ele também foi uma vítima dos padrões de beleza que rondam o mundo Pop Star, visto que se considerava completamente "feio" e sempre foi assim, já que seu próprio pai implantou em sua mente tal pensamento desde que era um menino prodígio conquistando o mundo.
Seu legado é algo que permanecerá por entre a efemeridade do tempo. Nossos netos provavelmente saberão quem foi Michael Jackson.
E que tenha vida longa!