terça-feira, 13 de maio de 2008

Sentimento Incógnito

Para Amy Winehouse é "um fato resignado". Em contra-ponto Christina Aguilera canta que "é o necessário para salvar-se de si mesmo" e Marisa Monte declara: "Não se trata de um jogo de azar". Na Bíblia foi descrito como um livrador de temores". Numa visão bem mais profunda Clarice Lispector sabiamente afirmou que "é mais inerente que a própria carência". E para mim, professo que o amor é uma transcriptase reversa* benígna.
Como tal ele destorneia as funções naturais: nos faz querer achar a fuga campestre no mar agitado, buscar nos seios da solidão o conforto aguardado bem como uma contínua compreensão de seus mistérios na reclusão.
Todavia, tal processo retrógado é benéfico, necessário, preciso. É um golpe da graça que alicerça de maneira consistente nosso mundo. Com suas variadas formas, adornos e direcionamentos é capaz de dominar até o mais frio e seco humano. Melhor dizendo, trata-se de um sentimento que engloba todas as espécies de terráqueos em suas particularidades.
Certo dia fui categoricamente questionado se já havia amado. Eu respondi que amo todos os dias. Quando minha alma entra em sintonia com outra através das palavras-a força cinética das relações- ou mesmo através de sorrisos, quando estou em contínuo contato com minha família, com meus amigos, quando afago uma criança, compreendo um animal, enxergo um humano: estou amando. Mas eu tinha razão que a pergunta se referia ao sentido carnal. Agora confesso que nesse ponto várias vezes já obti como a maioria de nós o sentimento que talvez seja o mais incógnito pela sua efemeridade e normalidade: a paixão: eis a virose sensível.
Tenho o dissernimento de que viver sem amor em sua complexidade não é vida. Enquanto eu tiver razão de que existe amor não ousarei em desistir, pois é como diria Machado: "o modo, pouco importa. O essencial é que saibamos amar"!

*Termo biológico: enzima que caracteriza os retrovírus e permite a função desordenada do sistema.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

A Mosca.

Tudo parecia imóvel. As árvores, galhos, pessoas, o ar... parecia que uma cápsula invisível e incolor de inércia tomava conta do público lugar.
Até mesmo um jovem sob efeito químico não conseguia adquirir do ambiente o movimento normal.
Eu estava paralisado em meio ao tudo que nada transmitia.
Um calor incomum no início de noite esteve característico.
Enquanto eu observava,de camarote natural, que algo sério ocorria com o jovem, uma mosca completou seu ciclo e caiu em óbito no meu papel.
O calor excedia. E eu, perplexo, observava a minúscula ex-vida abaixo de meu nariz.
A complexidade que aquilo me proporcionou inundou o momento de memórias e interrogações, mas o movimento ainda não caminhava ao exorbitante.
Contudo, o banco começou a passar ao meu corpo certa umidade: uma explosão sensorial. O leve frio adentrou em minhas costas. Ao redor, a brisa começou com sua bucólica ação. A mosca vôou sem vida se perdendo entre os quase infinitos grãos de areia.
Tive uma overdose inexplicável. Mas uma bem diferente daquele jovem que carregado foi pelos encapados amigos.
Foi então que em minha frente passava uma bípede com seu filhote. Aquela pequena nova vida aprendia os caminhos da terra. E eu me lembrei da mosca que conhecera morta minutos antes. O vento bateu em minha mente me levando a compreender que este é um ciclo constante.
Olhei as horas. Havia perdido a noção do tempo. Levantei e andei um pouco no parque.
Enquanto eu sonhava com as letras próprias divulgadas fora dali, tive a certeza de que a mosca me ensinou algo tão singelo e profundo como a doce necessária dor que é o amor.